O paradigma científico no discurso da mídia brasileira sobre Zika e microcefalia
DOI:
https://doi.org/10.17267/2594-7907ijhe.v2i1.1605Palavras-chave:
Zika vírus, Microcefalia, comunicação em saúdeResumo
Introdução: Em 2015 o Brasil foi surpreendido por um aumento da incidência de microcefalia, relacionada pelo Ministério da Saúde à infecção pelo vírus Zika durante a gestação. Este tema, de grande notoriedade para a saúde pública, alcançou ampla repercussão popular através da mídia. Objetivos: Descrever a presença do paradigma científico no discurso de profissionais de saúde, pesquisadores ou jornalistas que informam ao público leigo a respeito de causalidade biológica. Metodologia: Foi realizado o levantamento de todas as notícias disponibilizadas na plataforma digital do jornal Folha de São Paulo, contendo o termo chave "Zika e microcefalia" e publicadas entre 11 de novembro de 2015 a 04 de março de 2016, período em que havia pouca elucidação científica sobre o assunto. As notícias foram classificadas quanto à presença da certeza ou incerteza sobre a relação entre Zika e microcefalia em seu conteúdo e quanto à ideia central nos títulos das matérias. Resultados: Das 387 notícias analisadas, 51,4% relacionaram o Zika como fator causal da microcefalia, enquanto 32,8% consideraram a presença da incerteza na relação. Constatou-se que o jornal privilegiou temas relacionados às repercussões decorrentes das doenças, predominando o relato de medidas de controle. Considerando-se a origem das notícias, foi significativo o uso de fontes oficiais, apresentadas em 82% das notícias. Conclusão: O paradigma científico foi desconsiderado, ignorando-se o princípio da incerteza e o debate científico. Também foram evidenciadas limitações dos jornalistas e gestores de saúde na elaboração de uma comunicação eficaz com a população em situação de emergência de saúde pública.