Ultrassonografia obstétrica e sua relação com a secundarização da experiência da mulher grávida
DOI:
https://doi.org/10.17267/2317-3394rpds.v8i3.2460Palavras-chave:
Medicalização. Observação participante. Consumo. Análise do discurso.Resumo
O exame de ultrassonografia obstétrica não faz parte da rotina de pré-natal recomendada pela OMS ou pelo Ministério da Saúde. Entretanto é o exame complementar mais utilizado no pré-natal, mesmo não havendo demonstração de que este procedimento reduza a morbidade e a mortalidade perinatal ou materna. O que produz a busca crescente e a naturalização deste consumo?Que efeitos produz na vivência da mulher gestante? Este trabalho visa discutir como a ultrassonografia obstétrica, em seus usos mercadológicos e procedimentos, produz uma secundarização da experiência da mulher. É um estudo qualitativo que utilizou da observação participante para coleta de dados e utiliza o método de análise do discurso de Pechaux. Foram observados 23 exames ultrassonográficos na cidade de Vitória da Conquista, Bahia, com o objetivo de analisar os discursos presentes durante os exames. Os discursos foram divididos em 6 categorias: A inversão de protagonista a incubadora, Baby Tour e subjetivação dos movimentos, Plateia do espetáculo: produção e consumo de percepções, A venda de produtos ou indução ao tipo de parto, De fetos visíveis aos direitos do nascituro e O corpo que aparece: a desincorporação subjetiva. O modo como a ultrassonografia tem sido usada modifica o lugar-experiência da gestante, transferindo todo o protagonismo para o feto ou para o médico como diretor da cena. O apelo pelo consumo abusivo dos exames facilita sua mercantilização, esfumaça a capacidade de enfrentamento à medicalização e pode resultar na dependência e na alienação.